Colesterol: Consequências do excesso e importância do estilo de vida
- Nutricionista Patricia Florêncio
- 9 de set. de 2021
- 4 min de leitura
Apesar de temido, o colesterol é essencial à saúde. O problema começa quando o estilo de vida se torna desequilibrado e os valores sobem em demasia.

Normalmente encarado como um “vilão”, o colesterol é, na verdade, um elemento lipídico essencial ao organismo (quando se encontra dentro dos valores saudáveis), sendo produzido a nível do fígado ou obtido através da alimentação.
Com efeito, o colesterol é um composto fundamental para a produção de vitamina D, uma vitamina essencial para a absorção intestinal de cálcio, de ácidos biliares, essenciais à digestão, e na produção de diversas hormonas, como as hormonas sexuais e o cortisol.
Tem também uma importante função estrutural, estando presente nas membranas de todas as células do organismo.
“BOM E MAU” COLESTEROL

O colesterol circula na corrente sanguínea através de proteínas que se dividem em dois grandes grupos:
As de baixa densidade (LDL), que transportam o colesterol produzido no fígado para os restantes órgãos para ser utilizado e incorporado nas membranas;
As de elevada densidade (HDL), que transportam o colesterol dos tecidos para o fígado para ser eliminado.
No entanto, importa referir que as proteínas de baixa densidade quando circulam em quantidades excessivas, podem acumular-se nas paredes dos vasos sanguíneos e começar a desenvolver um processo inflamatório, nocivo para o organismo. São, por isso, chamadas de “mau colesterol”, enquanto as HDL de “bom colesterol”.
Neste contexto, é possível concluir que a problemática do colesterol surge quando os valores de colesterol total e LDL se encontram acima do recomendado, podendo impactar negativamente a circulação sanguínea e a função cardiovascular.
VALORES DE REFERÊNCIA
Os valores de referência variam de acordo com o tipo de colesterol:
Colesterol Total: inferior a 190mg/dl
Colesterol LDL: inferior a 115mg/dl
Colesterol HDL: superior a 35mg/dl nos homens ou 45mg/dl nas mulheres
Para doentes de risco (com patologias cardiovasculares, diabetes ou insuficiência renal, entre outras) os valores de LDL, HDL e colesterol total descem para 100mg/dl, 40mg/dl e 175mg/dl, respetivamente.
IMPORTÂNCIA E CONSEQUÊNCIAS DO COLESTEROL ELEVADO

Como referido anteriormente, quando o colesterol total e o colesterol LDL se encontram elevados, aumenta o risco de deposição das proteínas transportadoras e do próprio colesterol na parede dos vasos sanguíneos, desencadeando um processo inflamatório.
Este processo inflamatório que se desencadeia agrava a situação, pois potencia a deposição de mais colesterol e mediadores inflamatórios no local, perturbando o normal funcionamento do sistema circulatório.
A este processo dá-se o nome de aterosclerose, sendo este o ponto de partida para os diversos problemas cardiovasculares que se assumem, atualmente, como as principais causas de mortalidade e morbilidade nos países desenvolvidos, em particular a hipertensão, insuficiência cardíaca, angina de peito, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e trombose.
A formação da placa aterosclerótica aumenta a rigidez dos vasos sanguíneos e diminui o seu calibre, pelo que a circulação sanguínea se torna menos fluída e o coração necessita de realizar um maior esforço para que o sangue chegue até aos tecidos.
Por sua vez, esta maior dificuldade para bombear sangue pode levar à sua insuficiência e consequente limitação do fluxo de sangue até aos órgãos, o que pode comprometer o seu normal funcionamento, incluindo o do próprio músculo cardíaco, provocando dores ao nível do peito e, em casos mais graves, a necrose (morte) das células cardíacas.
Sendo as doenças cardiovasculares uma das principais doenças crónicas responsáveis por mortalidade e morbilidade elevadas, adquire extrema importância normalizar os valores de colesterol total e LDL para prevenir, de forma mais eficaz, esta problemática.
COMO REDUZIR, DE FORMA SAUDÁVEL, O COLESTEROL?

Se, por um lado, existem fatores de risco incontornáveis para o aumento de colesterol, em particular a hereditariedade e o aumento da idade, existem outros fatores associados a estilo de vida que dependem do controlo individual, nomeadamente tabagismo, sedentarismo e alimentação desequilibrada.
1 Cuidados alimentares
No que toca à alimentação, o consumo de grandes quantidades de gordura saturada e trans constitui o principal fator responsável pelo aumento dos níveis de colesterol.
Por outro lado, a adoção de uma dieta próxima do padrão alimentar mediterrânico e o aumento do consumo de alimentos ricos em fibra, em particular frutas e verduras, leguminosas e cereais integrais, desempenha um papel protetor do aumento do colesterol, visto que promovem a sua excreção por via intestinal.
Além da fibra, também as gorduras insaturadas, presentes em alimentos como azeite, sementes, frutos oleaginosos (nozes, amêndoas, avelãs) e peixes gordos, estão associadas à redução dos valores de LDL e ao aumento dos valores de HDL.
2 Estilo de vida ativo e saudável
Por outro lado, a prática regular de exercício físico e a redução dos níveis de sedentarismo, são também um importante aliado para a redução dos valores deste indicador.
Por último, a limitação de hábitos tabágicos e alcoólicos, assim como um adequados períodos de sono de descanso, podem também ser relevantes para redução deste indicador e da incidência de doenças cardiovasculares.
ALIMENTOS RICOS EM COLESTEROL: TERÃO INFLUÊNCIA SIGNIFICATIVA NOS NÍVEIS DE COLESTEROL SANGUÍNEO?

Relativamente aos alimentos mais ricos em colesterol, podemos verificar que se centram no ovo, vísceras, camarão e moluscos.
Com efeito, durante muito tempo os alimentos mais ricos em colesterol, em particular ovos, marisco e moluscos, foram praticamente abolidos da alimentação, apesar de terem um perfil nutricional interessante no que diz respeito a proteína e micronutrientes, por se pensar que eram os responsáveis diretos do aumento do colesterol LDL no sangue.
No entanto, sabe-se, atualmente, que alimentos ricos em colesterol, mas que simultaneamente sejam pobres em gorduras saturadas, têm um impacto muito residual no colesterol sanguíneo.
Por esse motivo, mais relevante do que restringir a ingestão de alimentos ricos em colesterol, importa limitar o consumo de alimentos ricos em gordura saturada e trans e que, em muitos casos, são também ricos em colesterol, nomeadamente
Carne: sobretudo, como bovinos, e cabrito, e pele de aves
Embutidos / produtos de charcutaria: chouriço, farinha, e produtos semelhantes
Vísceras
Laticínios gordos
Manteiga
Produtos de pastelaria e confeitaria
Alimentos processados – algumas bolachas, chocolates, salgadinhos, molhos e gorduras vegetais modificadas (principalmente margarinas utilizadas para fins industriais)
Produtos de fast food – pizzas, hambúrgueres, sopas e refeições pré-feitas e congeladas)
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